Eu só vou ali e já volto

Galera, a Ana Catarina chegou pra gente ter muito amor por ela, não é mesmo? Com menos de um mês na agência, ela foi a primeira a dar uma temática pra esse fantástico blog. Ainda que de forma indireta.

Dia desses, ela chegou na hora super certa. Ligando o computador, ela pediu: “Gente, quando a Letícia chegar, avisa que eu já cheguei. Eu só vou ali na padaria e já volto.”

Olha que lindo: vamos imaginar o que cada coleguinha Lumet diria no lugar da Ana Cat?

“Gente, quando a Letícia chegar, avisa que eu já cheguei...

_Eu só vou ali tocar um Guns e já volto. (Haroldo)

_Eu só vou ali fazer uma tattoo e já volto saltitando. (Letícia Rabbit)

_Eu só vou ali tomar uma gelada e talvez eu volte. (Thiago)

_Eu só vou ali ver se o pessoal tá trabalhando ou se tá no Face e já volto. (Felipe)

_Eu só vou ali exportar uns queijos e já volto. (Cristina)

_Eu só vou ali arrumar o carro e já volto. (Andy)

_Eu só vou ali renovar meu guarda-roupa e já volto. (Carol)

_Eu só vou ali pedir demissão e não volto. (Leandro)

_Eu só vou ali conferir o i-phone 5 e já posto. (Amanda)

_Eu só vou ali no oftalmologista e já apanho, digo, já volto. (Diogo)

_Eu só vou ali comprar um presentinho pra Dudazinha-linda-fofa e já volto. (Camila)

_Eu só vou ali ver Avenida Brasil e já volto. (Eduardo)

_Eu só vou ali, aqui, lá, em todo lugar, viva a anarquia, foda-se e já volto. (Rafa)

_Eu só vou ali fazer uma mousse, depois tricotar um pouco e já volto. (Marcela)

_Eu só vou ali levar meu filho no dentista e já volto. (Chris)

_Gente, eu só vou ali e eles querem saber aonde eu vou? Isso é um absurdo! (Sofia)

_Eu só vou ali em Pium-hi e depois do carteado já volto. (Jane)

_Eu só vou ali buscar um troco e já volto. (Cibele)

_Eu só vou ali se o meu namorado não atrasar e eu já chego. (Ludmila)

_Eu só vou ali almoçar rapidinho e já voltei. (Aline)

Licença para bocejar

Tiago esperava tranquilamente por sua consulta no hall da clínica. Olha uma figura daqui, folheia uma revista dali e, não tem jeito. O sono bate mesmo. Mecanicamente, sem pensar sobre a própria atitude, instintivamente abre sua boca no bocejo mais gostoso e mais aberto que já tinha dado em sua vida.

_Mãe, olha o que aquele homem tá fazendo! E uma pequena criança perto de Tiago se aconchegava assustada no colo da mãe, que lhe respondia também assustada:

_Não olha, filho! Que horror!! Mamãe vai dar um jeito, tá?

E a jovem senhora se levantando, foi chamar a polícia. A força da lei se manifestou imediatamente, cercando o local apropriadamente.

Ao som de algumas sirenes, uma escola de três policiais invadiu o local com presteza.

_Mão ao alto!

A comoção foi geral, as clientes velhinhas da clínica soltando gritinhos de pânico e as secretárias de olho no armamento dos policiais. A mãe da criança assustada não perdeu tempo e apontou para Tiago:

_Foi aquele homem ali!

No meio do seu segundo ou terceiro bocejo, o rapaz engasga com a boca aberta, sem entender o que estava acontecendo.

_O quê que eu fiz?!?

_Tá querendo bancar o espertinho, hein gordinho? Cadê sua licença pra Bocejar, hein?

_Licença pra quê?!?

_Não faz de desentendido que você me entendeu muito bem. É melhor mostra logo sua licença senão cê vai pro xadrez agora!

_Peraí, eu não tô entendendo nada! Que licença é essa?

_Licença pra Bocejar! Vou ter que repetir de novo? Olha, parece que você é réu primário nesses caso. Então, eu vou te dar uma chance. Vai tirar sua licença hoje mesmo e apresenta pra mim lá no Batalhão. Vamos ver se você é esperto o suficiente pra sair dessa!

_Tá bom, o senhor me desculpe, eu vou providenciar essa licença.

Saindo da clínica, Tiago não sabia muito bem o que fazer. Foi quanto então reparou numa placa que ainda não tinha visto, mas que parecia estar ali desde sempre: “Subprefeitura Zona Oeste. Licenças para todos os fins.” Entrou por impulso.

_Boa tarde... é aqui que eu tiro licença pra Bocejar Dona...Ludmila?

_É aqui mesmo. Pra Bocejar, espirrar ou tossir. Pra emitir flatulências é no andar de baixo.

_Não, eu só quero a do Bocejo mesmo.

_Ah, aproveita que você tá aqui e tira tudo de uma vez.

_Valeu, moça, mas eu tenho que apresentar essa licença na polícia.

_Ah, então, vamos resolver logo o seu problema. Tá com seu Atestado de Não Babador aí?

_Atestado de quê?!? Tiago ficava cada vez mais confuso.

_Já vi que o senhor é marinheiro de primeira viagem... faz o seguinte, dá um pulo ali no terceiro andar, segunda porta à direita depois da curva do corredor.

_Tá bom...

O rapaz seguiu as orientações da primeira tendente e foi até o local indicado.

_Bom dia.

_Bom dia senhor, posso ajudar?

_Eu queria um Atestado de Não Babador... dona... Amanda, é isso?

_Isso, é aqui mesmo... o senhor trouxe seu Certificado Kolynos de Hálito Fresco?

_Certificado o quê?

_Certificado Kolynos de Hálito Fresco, senhor.

_Mas, como assim? A Kolynos nem existe mais!

_É senhor, a Kolynos realmente não existe mais. Mas Colgate é apenas a marca mais lembrada pelos dentistas. Aqui, precisamos de hálito fresco.

_Entendi... e esse tal de Certificado eu tiro aonde, hein?

_No segundo andar, na porta ao lado do elevador de serviço.

Tiago seguiu mais uma vez as indicações, tentando conseguir a sua tão necessária Licença para Bocejar. A próxima secretária também o atendeu educadamente.

_Bom dia... a senhora é...

_Meu nome é Camila e eu não sou senhora, tá? O quê que o senhor deseja?

_É um Certificado Kolynos de Hálito Fresco.

_Claro que tinha que ser isso, né? Eu também tô aqui só pra emitir essa bagaça desse certificado! Chega aqui, dá uma baforada aqui nesse bafômetro.

Seguindo as indicações da atendente, Tiago finalmente conseguiu um certificado sem que lhe pedissem outro. De posse do documento, seguiu pelo caminho inverso no prédio, passando em cada sala onde esteve até o primeiro departamento. Havia reunido toda a papelada necessária.

_Oi dona Ludmila, tô aqui de novo... consegui todos os papéis que eu precisava...

_Ai, que bom! Mas o senhor vai precisar voltar amanhã, porque agora meu expediente já terminou, ok? Boa tarde!

Licença para assaltos

Nem tudo o que acontece ao nosso redor é tão fácil de digerir assim. Como aquela vez em que a Cristiane foi assaltada. A moça estava saindo do trabalho quando, sem se dar conta, foi abordada por um sujeito estranho.

_Passe a bolsa aí, dona.

Ouvindo isso, é claro que a mulher ficou assustada e, também, não é pra menos. E diante da reação de espanto:

_Mas o que é isso?

_Isso é um assalto, dona. Passe a bolsa aí.

_Mas como assim um assalto? Assim à luz do dia?

_Um assalto é um assalto, dona. Eu digo ”passe a bolsa aí” e a senhora me dá a sua bolsa. Entendeu?

Cristiane não queria se dar por vencida. Corajosa e sem medo do assaltante de dois metros de altura, gritou por socorro. Inacreditavelmente foi atendida de pronto. A policial chegou impondo respeito:

_Quieto aí, rapaz! O que tá acontecendo aqui?

E foi ele quem respondeu:

_Olha, chefia, eu tava aqui na minha, trabalhando decentemente quando essa dona resolveu engrossar e chamou a senhora.

_O quê? Como assim eu resolvei engrossar? Você queria me assaltar! Cristiane tentava se fazer ouvir pelas partes envolvidas.

_Deixa comigo, que a lei é que tem que resolver isso. Você está portando sua Licença para Atos Criminosos?

_Sim, tá aqui.

_Hummm... Wanderson Magalhães, 28 anos. Técnico em Pequenos Furtos...certo...Licenciado para ações à luz do dia...certo...Liberado para porte de arma branca...é... contigo não tem nada errado rapaz. É melhor a senhora se contentar porquê o rapaz tá agindo dentro da lei.

Enfurecida, Cristiane dá a volta por cima. Girando velozmente sua bolsa, dá umas boas cacetadas no bandido:

_Vai roubar a sua mãe, canalha!! E após, uns bons tabefes pra cima do homem, sai correndo pela rua.

_Putz, que mulher maluca! A gente não pode nem exercer nossa profissão mais hoje em dia – lamentou o pobre bandido.

_Pra você ver. Tem gente que adora a lei mas não se contenta quando tem algo a perder.

_Por falar nisso, esse relógio da senhora é bem bonito, hein, dona?

_Ah, obrigada, é um Chilli Beans que eu comprei essa semana.

_Passa ele pra cá!!!